(Atividade nº 2) Fichamento do texto "Pedagogia e pedagogos: inquietações e buscas" de José Carlos Libâneo
“Um
dos fenômenos mais significativos dos processos sociais contemporâneos é a
ampliação do conceito de educação e a diversificação das atividades educativas,
levando, por consequência, a uma diversificação da ação pedagógica na
sociedade. Em várias esferas da prática social, mediante as modalidades de
educação informais, não-formais e formais, é ampliada a produção e disseminação
de saberes e modos de ação (conhecimentos, conceitos, habilidades, hábitos,
procedimentos, crenças, atitudes), levando a práticas pedagógicas. Estamos
diante de uma sociedade genuinamente pedagógica conforme expressão de BEILLEROT
(1985).” (p. 1-2)
“Observamos
uma movimentação na sociedade mostrando uma ampliação do campo do educativo com
a consequente repercussão no campo do pedagógico. Enquanto isso, essa mesma
Pedagogia está em baixa entre intelectuais e profissionais do meio educacional,
com uma forte tendência em identificá-la apenas com a docência, quando não para
desqualificá-la como campo de saberes específicos.” (p.2)
“Verificamos,
assim, uma ação pedagógica múltipla na sociedade, em que o pedagógico perpassa
toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo esferas mais
amplas da educação informal e não-formal, criando formas de educação paralela,
desfazendo praticamente todos os nós que separavam escola e sociedade.” (p. 3)
“A ideia
de senso comum, inclusive de muitos pedagogos, é a de que Pedagogia é ensino,
ou melhor, o modo de ensinar. Uma pessoa estuda Pedagogia para ensinar
crianças. O pedagógico seria o metodológico, o modo de fazer, modo de ensinar a
matéria. Trabalho pedagógico seria o trabalho de ensinar, de modo que o termo
pedagogia estaria associado exclusivamente a ensino. “ (p. 3)
“Há,
de fato, uma tradição na história da formação de professores no Brasil segundo
a qual pedagogo é alguém que ensina algo. Essa tradição teria se firmado no
início da década de 30, com a influência tácita dos chamados “pioneiros da
educação nova”, tomando o entendimento de que o curso de Pedagogia seria um
curso de formação de professores para as séries iniciais da escolarização
obrigatória. O raciocínio é simples: educação e ensino dizem respeito a
crianças (inclusive porque “peda”, do termo pedagogia, é do grego “paidós”, que
significa criança). Ora, ensino se dirige a crianças, então quem ensina para
crianças é pedagogo.” (p. 4)
“A ideia
de conceber o curso de Pedagogia como formação de professores, a meu ver, é
muito simplista e reducionista, é, digamos, uma ideia de senso comum. A
Pedagogia se ocupa, de fato, com a formação escolar de crianças, com processos
educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso, ela tem um
significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de
conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade
e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa.” (p. 4)
“Ela
tem um caráter ao mesmo tempo explicativo, praxiológico e normativo da
realidade educativa, pois investiga teoricamente o fenômeno educativo, formula
orientações para a prática a partir da própria ação prática e propõe princípios
e normas relacionados aos fins e meios da educação.” (p. 4)
“Pedagogia
é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo sistemático da educação
− do ato educativo, da prática educativa como componente integrante da
atividade humana, como fato da vida social, inerente ao conjunto dos processos
sociais.” (p. 4)
“O
campo do educativo é bastante vasto, uma vez que a educação ocorre em muitos lugares
e sob variadas modalidades: na família, no trabalho, na rua, na fábrica, nos
meios de comunicação, na política, na escola. De modo que não podemos reduzir a
educação ao ensino e nem a Pedagogia aos métodos de ensino.” (p. 4-5)
“Em resumo, a Pedagogia, mediante
conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a
realidade educacional em transformação, para explicitar objetivos e processos
de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação
de saberes e modos de ação. Ela visa o entendimento, global e intencionalmente
dirigido, dos problemas educativos e, para isso, recorre aos aportes teóricos
providos pelas demais ciências da educação.” (p. 8)
“Quem,
então, pode ser chamado de pedagogo? O pedagogo é o profissional que atua em
várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à
organização e aos processos de transmissão e assimilação de saberes e modos de
ação, tendo em vista objetivos de formação humana previamente definidos em sua
contextualização histórica.” (p. 9)
“O
curso de Pedagogia se destina a formar o pedagogo-especialista, isto é, um
profissional qualificado para atuar em vários campos educativos, para atender
demandas socioeducativas (de tipo formal, não-formal e informal) decorrentes de
novas realidades, tais como novas tecnologias, novos atores sociais, ampliação
do lazer, mudanças nos ritmos de vida, sofisticação dos meios de comunicação.
Além disso, informar as mudanças profissionais, desenvolvimento sustentado, preservação
ambiental, nos serviços de lazer e animação cultural, nos movimentos sociais,
nos serviços para a terceira idade, nas empresas, nas várias instâncias de
educação de adultos, nos serviços de psicopedagogia, nos programas sociais, na
televisão e na produção de vídeos e filmes, nas editoras, na educação especial,
na requalificação profissional etc.” (p. 10)
“Fica
claro, portanto, que há uma diversidade de práticas educativas na sociedade e,
em todas elas, desde que se configurem como intencionais, está presente a ação
pedagógica.” (p. 10)
“O
curso de Pedagogia será destinado à formação de profissionais interessados em
estudos do campo teórico-investigativo da educação e no exercício
técnico-profissional, como pedagogos no sistema de ensino, nas escolas e em
outras instituições educacionais, inclusive as não-escolares.” (p. 12)
“[...] a formação dos profissionais da
educação deve contemplar a preparação daqueles profissionais da área
educacional demandados pela sociedade brasileira, em sua configuração atual,
para atuarem na organização e na gestão de todos os segmentos do sistema
nacional de ensino.” (p. 13)
“Assim,
a formação do profissional da educação é vista sob uma tríplice perspectiva:
visa formar um profissional que possa atuar como docente (atual licenciado),
como especialista (detentor das atuais habilitações) e como pesquisador (o
atual bacharel, como essa modalidade tem sido mantida).” (p. 13)
“É
destacada, nesse quadro, a formação de profissionais da educação para atuar em
contextos não-escolares. É acentuada a consciência atual da importância e da
necessidade da intervenção participante e eficaz desses profissionais no âmbito
das práticas socioculturais desenvolvidas, tendo em vista que processos
pedagógicos informais estão sempre implícitos nas práticas, efetivadas no plano
coletivo e comunitário.” (p. 13)
“[...]
é reivindicada, com toda legitimidade, a presença atuante de profissionais
dotados de capacitação pedagógica para atuarem nas mais diversas instituições e
ambientes da comunidade: nos movimentos sociais, nos meios de comunicação de
massa, nas empresas, nos hospitais, nos presídios, nos projetos culturais e nos
programas comunitários de melhoria da qualidade de vida. Essa participação
pedagógica também exige preparação prévia, sistemática e qualificada.” (p.
13-14)
“A
Pedagogia precisa reafirmar seu compromisso com a razão, com a busca da
emancipação, da autonomia, da liberdade intelectual e política. O pensamento
pós-moderno critica a possibilidade dessa busca de autonomia no mundo
contemporâneo. Há restrições à autonomia do sujeito face às relações de poder,
à vigilância das ações individuais, à burocratização, à racionalidade
instrumental, à subjugação da subjetividade. Todavia, uma Pedagogia para a
emancipação precisa continuar apostando na possibilidade de desenvolvimento de
uma razão crítica precisamente como condição para desvelar as restrições à
autonomia no contexto do mundo moderno.” (p. 16)
“Educação
de qualidade é aquela em que a escola promove para todos o domínio de conhecimentos
e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas necessários ao
atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos, à inserção no
mundo do trabalho, à constituição da cidadania (inclusive como poder de
participação), tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária.” (p. 17)
“Ver a
escola como “espaço de síntese” é considerá-la como lugar onde os alunos
aprendem a razão crítica para poderem atribuir significados às mensagens e
informações recebidas das mídias e formas de intervenção educativa urbana. A
escola deve ir se tornando uma estrutura possibilitadora de atribuição de
significados à informação, propiciando aos alunos os meios de buscá-la,
analisá-la, para lhe darem significado pessoal.” (p. 18)
“[...]
é preciso reavaliar a investigação sobre ensino e aprendizagem. Ante o
paradigma tecnicista do aprender a fazer, aprender a usar (conhecimento como
operacionalização) e aprender a comunicar, é necessário de fortalecer a
investigação sobre os processos cognitivos, em que seja destacado o movimento
do ensinar a pensar.” (p. 19)
“A
autonomia da escola é o contraponto da centralização da gestão do sistema
escolar, que retira das escolas, dos professores, pais e especialistas o poder
de iniciativa e decisão. Implica uma organização escolar que supera a visão
verticalizada do sistema de ensino, de modo que as escolas possam traçar seu
próprio caminho.” (p. 19)
“Sem
professor competente no domínio das matérias que ensina, nos métodos, nos
procedimentos de ensino, não é possível a existência de aprendizagens
duradouras. Se é preciso que o aluno domine solidamente os conteúdos, o
professor precisa ter, ele próprio, esse domínio. [...] Se quisermos lutar pela
qualidade da oferta dos serviços escolares e pela qualidade dos resultados do
ensino, é preciso investir mais na pesquisa sobre formação de professores.” (p.
20)
“Se é
verdade que os caminhos da formação humana são hoje mais espinhosos, entre
outras razões porque não dispomos de tantas certezas como em outros tempos, por
outro lado, não há motivos sólidos para renunciar à necessidade de formar
sujeitos racionais mediante a valorização da razão crítica, o resgate do
sentido da busca da autonomia e a afirmação de uma ciência não absolutizada
conectada ao contexto social e cultura.” (p. 20)
“Para
o enfrentamento de exigências colocadas pelo mundo contemporâneo, são requeridos
dos educadores novos objetivos, novas habilidades cognitivas, mais capacidade
de pensamento abstrato e flexibilidade de raciocínio, capacidade de percepção
de mudanças. Portanto, é clara a necessidade de formação geral e profissional
implicando o repensar dos processos de aprendizagem e das formas do aprender a
aprender, a familiarização com os meios de comunicação e o domínio da linguagem
informacional, o desenvolvimento de competências comunicativas e capacidades
criativas para análise de situações novas e cambiantes.” (p. 21)
“[...]
é essencialmente necessária a reconstrução da Pedagogia e a ampliação do campo
de ação profissional do pedagogo (especialista em educação), paralelamente a um
expressivo esforço de organização de um sistema nacional de formação inicial e
continuada de professores para o Ensino Fundamental e Médio. [...] O
desenvolvimento da ciência pedagógica e a reflexão teórica sobre a problemática
educativa na sua multidimensionalidade, entretanto, seria o pressuposto para a
reconfiguração da identidade profissional dos professores, para além de sua
especialização na ciência/matéria de ensino em que deve ser formado.” (p. 22)
“A
sociedade contemporânea, ao mesmo tempo que se globaliza, que cria novos
patamares de progresso material, amplia também a exclusão social. Nosso desafio
é uma escola includente. Mas também uma escola atual, ligada no mundo
econômico, político, cultural. A luta contra a exclusão social e por uma
sociedade justa, uma sociedade que inclua todos, passa fundamentalmente pela
escola, passa pelo nosso trabalho de professores.” (p. 23)
“[...]
precisamos imensamente de professores bem preparados, eticamente comprometidos,
que tenham um envolvimento no projeto da escola e na execução e avaliação desse
projeto.” (p. 23)
“[...]
vamos assumir nossa missão pedagógica, vamos investir no nosso ambiente de
trabalho, vamos transformar nossas escolas em espaços de aprendizagem, de
formação continuada, aprendendo, dentro da escola, as novas exigências da nossa
profissão.” (p. 23)
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