FICHAMENTO: Eixo Movimento do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
“Ao movimentar-se, as crianças
expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do
uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto,
é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma
linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o
ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo”. (p.
15)
“Ao brincar, jogar, imitar e
criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da
cultura corporal na qual estão inseridas”. (p.15)
“A diversidade de práticas
pedagógicas que caracterizam o universo da educação infantil reflete diferentes
concepções quanto ao sentido e funções atribuídas ao movimento no cotidiano das
creches, pré-escolas e instituições afins”. (p. 17)
“É muito comum que, visando garantir uma
atmosfera de ordem e de harmonia, algumas práticas educativas procurem
simplesmente suprimir o movimento, impondo às crianças de diferentes idades
rígidas restrições posturais. Isso se traduz, por exemplo, na imposição de
longos momentos de espera — em fila ou sentada — em que a criança deve ficar
quieta, sem se mover; ou na realização de atividades mais sistematizadas, como
de desenho, escrita ou leitura, em que qualquer deslocamento, gesto ou mudança
de posição pode ser visto como desordem ou indisciplina”. (p. 17)
“O movimento para a criança
pequena significa muito mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no
espaço. A criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e das mímicas
faciais e interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão corporal
integra-se ao conjunto da atividade da criança”. (p. 18)
“[...] é muito importante que,
ao lado das situações planejadas especialmente para trabalhar o movimento em
suas várias dimensões, a instituição reflita sobre o espaço dado ao movimento
em todos os momentos da rotina diária, incorporando os diferentes significados
que lhe são atribuídos pelos familiares e pela comunidade”. (p. 19)
“Assim, um grupo disciplinado
não é aquele em que todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que
os vários elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades
propostas. Os deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse
envolvimento não podem ser entendidos como dispersão ou desordem, e sim como
uma manifestação natural das crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo
das manifestações da motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar
melhor a sua prática, levando em conta as necessidades das crianças”. (p. 19)
No primeiro ano de vida do
bebê, prevalece a dimensão subjetiva do movimento, pois é principalmente
através das emoções que a criança se comunica.
Aquisições como a preensão e a
locomoção representam importantes conquistas no plano da motricidade objetiva.
Consolidando-se como instrumentos de ação sobre o mundo, aprimoram-se conforme
as oportunidades que se oferecem à criança de explorar o espaço, manipular
objetos, realizar atividades diversificadas e desafiadoras”. (p. 21)
“A grande independência que
andar propicia na exploração do espaço é acompanhada também por uma maior
disponibilidade das mãos: a criança dessa idade é aquela que não pára, mexe em
tudo, explora, pesquisa”. (p. 22)
“Outro aspecto da dimensão
expressiva do ato motor é o desenvolvimento dos gestos simbólicos, tanto
aqueles ligados ao faz-de-conta quanto os que possuem uma função indicativa,
como apontar, dar tchau etc. No faz-de-conta pode-se observar situações em 23
que as crianças revivem uma cena recorrendo somente aos seus gestos, por
exemplo, quando, colocando os braços na posição de ninar, os balançam, fazendo
de conta que estão embalando uma boneca. Nesse tipo de situação, a imitação
desempenha um importante papel”. (p. 21 e 22)
“Na faixa etária de 4 a 6 anos
“[...] constata-se uma ampliação do repertório de gestos instrumentais, os
quais contam com progressiva precisão. Atos que exigem coordenação de vários
segmentos motores e o ajuste a objetos específicos, como recortar, colar,
encaixar pequenas peças etc., sofisticam-se. Ao lado disso, permanece a
tendência lúdica da motricidade, sendo muito comum que as crianças, durante a
realização de uma atividade, desviem a direção de seu gesto; é o caso, por
exemplo, da criança que está recortando e que de repente põe-se a brincar com a
tesoura, transformando-a num avião, numa espada etc”. (p. 24)
“As práticas culturais
predominantes e as possibilidades de exploração oferecidas pelo meio no qual a
criança vive permitem que ela desenvolva capacidades e construa repertórios
próprios”. (p. 25)
“As brincadeiras que compõem o
repertório infantil e que variam conforme a cultura regional apresentam-se como
oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como
empinar pipas, jogar bolinhas de gude, atirar com estilingue, pular amarelinha
etc”. (p. 25)
A organização dos conteúdos
para o trabalho com movimento deverá respeitar as diferentes capacidades das
crianças em cada faixa etária, bem como as diversas culturas corporais
presentes nas muitas regiões do país. (p. 29)
“Os conteúdos deverão
priorizar o desenvolvimento das capacidades expressivas e instrumentais do
movimento, possibilitando a apropriação corporal pelas crianças de forma que
possam agir com cada vez mais intencionalidade. Devem ser organizados num processo
contínuo e integrado que envolve múltiplas experiências corporais, possíveis de
serem realizadas pela criança sozinha ou em situações de interação. Os
diferentes espaços e materiais, os diversos repertórios de cultura corporal
expressos em brincadeiras, jogos, danças, atividades esportivas e outras
práticas sociais são algumas das condições necessárias para que esse processo
ocorra”. (p. 29)
“A dimensão subjetiva do
movimento deve ser contemplada e acolhida em todas as situações do dia-a-dia na
instituição de educação infantil, possibilitando que as crianças utilizem
gestos, posturas e ritmos para se expressar e se comunicar. Além disso, é
possível criar, intencionalmente, oportunidades para que as crianças se
apropriem dos significados expressivos do movimento”. (p. 30)
“A dimensão expressiva do
movimento engloba tanto as expressões e comunicação de ideias, sensações e
sentimentos pessoais como as manifestações corporais que estão relacionadas com
a cultura. A dança é uma das manifestações da cultura corporal dos diferentes
grupos sociais que está intimamente associada ao desenvolvimento das
capacidades expressivas das crianças. A aprendizagem da dança pelas crianças,
porém, não pode estar determinada pela marcação e definição de coreografias pelos
adultos”. (p. 30)
“As ações que compõem as
brincadeiras envolvem aspectos ligados à coordenação do movimento e ao
equilíbrio. Por exemplo, para saltar um obstáculo, as crianças precisam
coordenar habilidades motoras como velocidade, flexibilidade e força,
calculando a maneira mais adequada de conseguir seu objetivo. Para empinar uma
pipa, precisam coordenar a força e a flexibilidade dos movimentos do braço com
a percepção espacial e, se for preciso correr, a velocidade etc”. (p. 34 e 35)
“As instituições devem
assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que
contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio das
crianças. Os jogos motores de regras trazem também a oportunidade de
aprendizagens sociais, pois ao jogar, as crianças aprendem a competir, a
colaborar umas com as outras, a combinar e a respeitar regras”. (p. 35)
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